"amai o próximo como outro ti mesmo"...

Dulcinea Cassis

Comentando o artigo "Ninguém me ama..." JK traz a contribuição:" Ouvi em um treinamento recente que há um pequeno equívoco de tradução no mandamento "amai ao próximo como a ti mesmo"; de fato acho mais justo atribuir a uma interpretação distinta, também cabível, até porque da sua sutileza. Disse o professor que o correto teria sido traduzir assim: "amai o próximo como outro ti mesmo". Embora sutil, colocar dessa maneira quase que imediatamente lança o receptor em uma projeção de si mesmo no outro, estabelecendo que "empatia" seja a palavra-chave. E é uma verdadeira aventura lançar-se em uma viagem dessas, desde que você realmente esteja disposto a pagar o preço de uma entrega dessa envergadura, ainda que reserve esse jeito de amar a uns poucos privilegiados à sua volta. " Obrigada, JK, pela sua contribuição. A partir dela é que elaboro a reflexão de hoje.


J.L. Moreno, criador do Psicodrama, desenvolveu o conceito de Tele. Explicando de forma genérica, Tele é a capacidade mútua de percepção real do outro, por ambas as partes, simultaneamente: "Eu o percebo tal como VOCÊ é, e VOCÊ me percebe tal qual EU sou. E VOCÊ percebe que EU o percebo e EU percebo que VOCÊ me percebe". Há quem julgue ser utópico tal proposta de uma percepção tão perfeita, completa e verdadeira. Mas independente disso, o fato é que, quanto mais télica é a relação, mais saudável ela se apresenta. Ou seja, quanto mais duas pessoas conseguem se perceber mutuamente tal como são, sem projeções e transferências, mais saudável se torna o relacionamento.



Cabe aqui explicar um pouco, também de forma genérica, os conceitos de projeção e transferência. Peço licença aos colegas para, de forma simplificada, dado que esse é o objetivo deste blog, tentar explicar esses conceitos tão profundamente estudados. Dizemos que há uma projeção, quando, ao invés de perceber o OUTRO, eu projeto meu próprio EU, e uma transferência quando se projeta no OUTRO figuras significativas, pai e mãe. Ambos são fenômenos muito comuns. No primeiro, é comum acusar o outro pelas próprias falhas e no segundo, é comum projetar no outro os sentimentos que sente pelos genitores. Vale ressaltar que esses processos são inconscientes, ou seja, a pessoa não percebe que isso está acontecendo.


Voltando ao conceito de tele, e à observação de JK, poderíamos explicar a tele como uma empatia de mão dupla. Quanto à referência à passagem do Evangelho sobre o amor ao próximo, tenho a ressaltar o seguinte: É comum pessoas, a partir desse mandamento e dos seus mandados internos, conscientes e inconscientes, fazerem pelo outro, mais do que por si mesmos. É, por exemplo, o caso da mulher que deixa de cuidar de si mesma para priorizar filhos e marido. Ou o caso do homem que paga a conta da mesa do bar e não consegue pagar as contas de casa. Poderíamos citar muitos casos, mas deixo para cada um analisar se este é o seu caso, e de que forma esse "excesso de amor" se manifesta. Citei com aspas, porque é preciso fazer uma análise mais aprofundada sobre esse comportamento. Será que realmente é AMOR? O que acontece se uma mãe não cuida de si mesmo? Será que é possível cuidar adequadamente do outro? Um bom exemplo é o das instruções de segurança dos vôos onde é ressaltado que "em caso de despressurização, coloque a máscara primeiro em si, depois na criança que estiver ao seu lado", pois se o adulto passar mal, não poderá cuidar da criança.

De qualquer forma, vale ressaltar que nem Jesus Cristo mandou fazermos pelo outro mais do que fazemos por nós, pois o mandamento diz "COMO a ti mesmo" (ou como outro ti mesmo). Não menos, mas também não MAIS do que a si mesmo.

Comentários

  1. Oi, Dulcinéa!
    De fato, o comentário foi postado no "Ninguém me ama...", mas tudo bem. De todo modo senti-me homenageado. Muito obrigado.
    Beijos!

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  2. Perdoai-me a falha JK, assim como EU tenho me perdoado.... Estou fazendo a correção no texto (vantagens de publicação em Blog).
    Um abraço,
    Dulcinéa

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